Em meio à pandemia da covid-19, a saúde ganhou atenção do mundo. E nesse contexto, foi possível observar grandes transformações tanto no setor público quanto no mercado privado de assistência médica.
O Sistema Único de Saúde (SUS), que resguarda cerca de 150 milhões de brasileiros, foi determinante para o enfrentamento da pandemia. Hoje, não é possível falar de combate à pandemia sem verificar, por exemplo, a quantidade de pacientes infectados, bem como os avanços do Programa Nacional de Imunização.
Passado o momento mais crítico da corajosa atuação do SUS no combate à pandemia, o desafio para o futuro é desenhar políticas públicas eficientes e de longo prazo. Essa melhora no atendimento à população brasileira passa pelo processo de digitalização dos serviços. O Conecte SUS, aplicativo desenvolvido durante a pandemia, é o maior exemplo desse esforço.
Apesar dos méritos do SUS no combate à pandemia e do avanço da vacinação, muitos ainda temem pela saúde. Para 81% dos brasileiros, o contexto do enfrentamento ao novo coronavírus fez ascender a preocupação com o acesso a atendimentos médicos e procedimentos em geral. Esse fenômemo pode ser comprovado, por exemplo, em uma recente pesquisa do instituto Bateiah Estratégia e Reputação, encomendada por setores representantes dos planos de saúde. Segundo a Pesquisa Anab de Planos de Saúde, pessoas com menor renda familiar tendem a manifestar maior angústia: 84,1% recebem de dois a cinco salários mínimos.
Para discutir os rumos dos sistemas de saúde brasileiros, o Correio Braziliense promoveu, o CB Fórum Live — Inovação além do tratamento. Na abertura dos painéis, discursou o ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes. O ministro declarou que, para enfatizar o papel do SUS para todos os brasileiros, a saída é a boa governança. “Para passar confiança, é preciso ter governança. Se o Estado trabalhar de forma organizada e preventiva pode evitar mortes, como também podemos evitar erros na administração pública, reduzindo desvios e fraudes”, explica.
Outro ponto essencial na inovação em saúde é a tecnologia. Do lado do setor público, o governo federal investe no lançamento de uma Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, projeto que começou no ano passado e vai até 2028. O plano passa pela informatização dos diversos níveis de atenção do SUS, pela interconectividade dos setores de saúde, e até pela capacitação de profissionais de saúde em informática.
A transformação digital no setor se torna ainda mais desafiadora à medida que o Brasil tem a quarta população mais conectada do mundo, segundo o diretor do departamento de informática do DataSUS, Merched Cheheb de Oliveira. Cheheb indica que uma saúde mais tecnológica e digital é uma demanda comum entre os 74% da população brasileira que está conectada.
Parceria
Nesse contexto, segundo os participantes do CB Fórum, uma união do setor público e privado é vista como essencial para garantir a inovação além do tratamento. O coordenador-geral do projeto Genomas Raros, João Bosco Oliveira Filho, destacou a importância da colaboração público-privada.
“Nesse projeto trouxemos a melhor ferramenta de genética, chamada de sequenciamento do genoma completo para os pacientes do SUS. Temos a intenção de encurtar o tempo de diagnóstico para milhares de pacientes”, ressaltou. “Essas parcerias são importantíssimas para acelerar o desenvolvimento, para implantação e a avaliação de novas tecnologias dentro do SUS”, acrescentou.
O diretor de Acesso à Saúde da Roche Farma, Antônio Silva, também destacou a importância da cooperação. “Sozinhos, não vamos fazer. Precisamos da colaboração, juntar parceiros da iniciativa privada, da academia, da iniciativa pública, para que a gente faça exatamente o que está sendo provocado aqui: o diálogo”, disse.
Mais governança, melhor resultado
O Ministério da Saúde gasta cerca de R$ 130 bilhões por ano para manter suas atividades e atender os cerca de 150 milhões de brasileiros que dependem do Sistema Único de Saúde (Sus). Para garantir que o investimento seja realizado de forma assertiva e que traga mais benefícios para a população que utiliza os serviços públicos de saúde, se faz imprescindível a governança. É o que defende o ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes.
“Nosso caminho é orientar os gestores para cometer menos equívocos, e a governança é a forma de trazer a esperança de volta, para que as pessoas voltem a acreditar [nos serviços públicos]”, disse na abertura do CB Fórum Live — Inovação além do tratamento.
Governança se trata de um conjunto de ações que definem responsabilidades, viabilizando processos mais claros para a tomada de decisão. Para que seja efetiva, é necessário acompanhamento constante. Em sua exposição, Augusto Nardes mencionou exemplos de estratégias aplicadas no governo federal para monitorar a administração pública brasileira.
“Criamos indicadores para observar como está evoluindo o governo brasileiro. Fizemos um levantamento se tinha governança, se tinha estratégia, controle”. Durante esse processo, relatou Nardes, foram diagnosticadas unidades de pronto-atendimento (Upa) abandonadas, além de creches, dentro das cerca de 14 mil obras públicas inacabadas no Brasil.
Uma das iniciativas mencionadas pelo ministro do TCU para modernizar a administração pública é a associação Rede Governança Brasil, em 2019. A rede conta com 550 voluntários, distribuídos em mais de 30 comitês.
Nardes destacou a cartilha elaborada pela associação, destinada a gestores municipais, com orientações a respeito da administração e da elaboração de um planejamento estratégico. “Essa inovação nós podemos fazer em várias áreas, mas na saúde, especialmente, a questão da inovação e tecnologia havia muitas falhas”, declarou.
O ministro evidenciou a gravidade da situação vivida pelo país durante a pandemia. “Nós temos algumas dificuldades que ficaram evidentes agora no combate à pandemia. Como mudar isso?”, questionou. “Se o Estado trabalhar de forma organizada e preventiva, pode evitar mortes. Assim como também podemos evitar erros na administração pública como um todo, se fizermos uma política global de melhoria da governança. Diminuiria desvios e fraudes, decorrentes dessa falta de uma boa governança”, acrescentou.
Fonte : Correio Braziliense/ Maria Eduarda Cardim-Gabriela Chabalgoity- João Vitor Tavarez- Bernardo Lima- Maria Eduarda Angeli e Taísa Medeiros