O desenvolvimento de um novo medicamento custa às empresas, em média, US$ 2,6 bilhões. Isso porque nove em cada dez drogas promissoras falham em algum lugar ao longo do seu desenvolvimento e, mesmo quando obtêm sucesso, o processo até a aprovação regulatória costuma levar uma década ou mais. Diante de riscos tão altos, empresas do ramo farmacêutico investem em parcerias com Inteligência Artificial (IA).
É o caso do novo AI Innovation LAB, fruto de parceria entre a Microsoft e uma das 5 top indústrias farmacêuticas globais com operações no Brasil e que busca transformar a medicina com a inteligência artificial. Assim o laboratório pretende reduzir o tempo para produção de novos medicamentos, com o uso redes neurais desenvolvidas pela Microsoft para gerar, rastrear e selecionar automaticamente moléculas promissoras.
Os desafios da IA
A racionalização do desenvolvimento de medicamentos é uma questão urgente para a saúde humana, que pode ser utilizada tanto na descoberta de novas maneiras de tratar doenças milenares como a malária, que ainda mata milhares de pessoas todos os anos, e até na descoberta de novos tratamentos contra o câncer.
Por essa ótica, o desenvolvimento de novos medicamentos se tornou tanto um problema de IA e ciência de dados, quanto de biologia e química. Isso pela necessidade de se analisar de outras maneiras as grandes quantidades de dados existentes e descobrir novas correlações e padrões essenciais para encontrar medicamentos com potencial.
O grande desafio para IA é compreender todos os dados já disponíveis. Isso porque a maior parte das informações existe na forma de dados não estruturados, como notas de laboratório de pesquisa, artigos de revistas médicas e resultados de ensaios clínicos, os quais, geralmente, são armazenados em sistemas desconectados.
Além de desenvolver novas formas de leituras para esse material, que a escala humana já não consegue dar conta, a ideia é que, com o uso da IA, os colaboradores trabalhem em novas soluções integradas e essas possam ser desenvolvidas continuamente, criando um ciclo virtuoso de exploração e descoberta. O resultado? Inteligência generalizada, que abrange todo o processo de criação de medicamentos.
Medicamento criado por Inteligência Artificial será usado em humanos pela primeira vez
Uma molécula de medicamento “inventada” por Inteligência Artificial (IA) será usada em testes em humanos em um marco inédito no aprendizado de máquina em medicina. Ele foi criado pela start-up britânica Exscientia e por uma empresa farmacêutica japonesa e será usado no tratamento de pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Normalmente, o desenvolvimento de medicamentos leva cerca de cinco anos, mas o medicamento desenvolvido por IA levou apenas 12 meses. O diretor executivo da Exscienta, Prof Andrew Hopkins, descreveu o evento como “um marco fundamental na descoberta de drogas”.Ele disse à BBC: “Vimos a IA diagnosticar pacientes e analisar dados e exames de pacientes, mas esse é um uso direto da IA na criação de um novo medicamento”.
A molécula – conhecida como DSP-1181 – foi criada usando algoritmos que vasculhavam potenciais compostos, comparando-os com um enorme banco de dados de parâmetros.“Existem bilhões de decisões necessárias para encontrar as moléculas corretas e é uma decisão enorme projetar com precisão um medicamento”, disse Hopkins.“Mas a beleza do algoritmo é que eles são agnósticos, portanto podem ser aplicados a qualquer doença”, acrescentou.
O primeiro medicamento entrará nos ensaios da primeira fase no Japão que, se forem bem-sucedidos, serão seguidos por mais testes globais. A empresa já está trabalhando em medicamentos em potencial para o tratamento de câncer e doenças cardiovasculares e espera ter outra molécula pronta para testes clínicos até o final do ano.
“Este ano foi o primeiro a ter um medicamento projetado por IA, mas até o final da década todos os novos medicamentos poderiam ser criados por IA.” (Prof Andrew Hopkins, diretor executivo da Exscienta)
Paul Workman, executivo-chefe do Instituto de Pesquisa do Câncer, que não participou da pesquisa, disse sobre o avanço: “Acho que a IA tem um enorme potencial para aprimorar e acelerar a descoberta de medicamentos”.
“Estou empolgado em ver o que acredito ser o primeiro exemplo de um novo medicamento que agora está entrando em ensaios clínicos em humanos, criado por cientistas que usam a IA de uma maneira importante para orientar e acelerar a descoberta”.
Fonte: Canaltech / Fidel Forato e DataScience Academy