Os biomarcadores são indicadores mensuráveis de processos biológicos, patológicos e farmacológicos. Portanto, são utilizados para estimar a probabilidade de que um indivíduo.
Apesar de ser um termo que se popularizou recentemente, já o utilizamos na prática clínica há muitos anos. Todos os exames (radiológicos, laboratoriais, anatomopatológicos, testes cognitivos) são utilizados para encontrar biomarcadores de doenças.
Existem diferentes formas de classificar os biomarcadores. A mais simples dela têm em vista o método e o parâmetro utilizado:
- Molecular — são medidos por meio da quantificação ou avaliação qualitativa da presença de determinada molécula no organismo;
- Histológicos — alterações celulares e teciduais perceptíveis às técnicas de microscopia;
- Radiográficos — surgem com a interação de sinais físicos com as estruturas anatômicas do nosso corpo;
- Fisiológicos — são métodos que avaliam processos fisiológicos, geralmente em tempo real, como o eletrocardiograma e a aferição da da pressão arterial;
- Cognitivos — são instrumentos de avaliação das funções cognitivas, como os testes de QI e o MINI-Mental.
Além disso, os biomarcadores podem ser classificados, como:
- de segurança — são biomarcadores que mostram se a saúde do indivíduo apresenta algum risco devido a alguma exposição ou intervenção. Alguns exemplos são os biomarcadores de toxicidade utilizados na medicina ocupacional e nas pesquisas clínicas de fármacos;
- diagnósticos — são utilizados para auxiliar no diagnóstico diferencial de doenças, auxiliando na confirmação ou exclusão de uma condição;
- preventivos (de risco e susceptibilidade) — podem auxiliar na identificação e classificação de risco para doenças graves em adultos saudáveis ou assintomáticos. Nesse sentido, temos biomarcadores identificáveis na citopatologia do colo do útero, nas fórmulas de estimativa de risco cardiovascular, entre outras;
- prognóstico — são utilizados para estimar a evolução natural e os desfechos clínicos mais prováveis em um indivíduo acometido por alguma condição médica. Por exemplo, as classificações de estadiamento oncológico utilizam geralmente biomarcadores baseados em exames de imagem;
- preditivo — são biomarcadores que auxiliam na individualização do plano terapêutico de um paciente. Também são muito utilizados na oncologia para a seleção de terapias-alvo. Por exemplo, a presença do EFGR é um passo importantíssimo para determinar a escolha de drogas para determinados tumores de pulmão;
- de monitoramento — são medidos longitudinalmente para verificar a evolução da saúde de um paciente, como é o caso das dosagens periódica de íons em pacientes críticos;
- de resposta — avaliam o sucesso ou a falha de um tratamento instituído ao paciente.
Quais as principais tendências na aplicação dos biomarcadores?
Os biomarcadores substitutos (surrogate biomarkers) certamente são a principal tendência atual. Eles podem ser utilizados como substitutos de desfechos clínicos em estudos clínicos com pacientes. Assim, as pesquisas científicas podem substituir eventos (como óbito e morbidade) por alterações mensuráveis que predizem as chances de esses eventos ocorrerem.
O conceito é relativamente antigo e surgiu na década de 1980 em discussões sobre formas de acelerar pesquisas clínicas sem sacrificar a segurança do paciente e a avaliação da eficácia terapêutica. O conceito por trás dos biomarcadores substitutos apresenta uma plausibilidade significativa:
Se um determinado biomarcador pode medir um desfecho clínico (como mortalidade ou cura) com alta especificidade, ele poderia (em tese) substituí-lo na avaliação dos estudos científicos. Isso traria maior agilidade aos estudos clínicos, visto que as fases 2 e 3 são mais lentas, pois é preciso esperar muito tempo para a avaliação dos desfechos.
Em doenças crônicas e com evolução natural lenta, como as condições cardiovasculares, os estudos podem demorar entre 20 e 40 anos devido à observação dos desfechos. Todavia, se houvesse um biomarcador que prediz agora um desfecho que somente vai se efetivar daqui a alguns anos, os estudos clínicos poderiam ser abreviados.
Os biomarcadores de saúde e de doença ganharam muita atenção na ciência biomédica nos últimos anos. Com a Transformação Digital da medicina, contudo, essa tendência vai se acelerar ainda mais. Entende por que?
Primeiramente, eles reduzem a incerteza da profissão médica, que acontece pela natureza intrínseca da nossa profissão. Estamos sujeitos a erros cognitivos e a influências das nossas crenças. Quando trazemos critérios mais objetivos, desde que validados cientificamente, sentimos que podemos ser mais assertivos ao determinar o prognóstico, o diagnóstico e o plano terapêutico dos pacientes.
Hoje em dia, a inteligência artificial aplicada à medicina vem melhorando ainda mais esse cenário. Por meio de técnicas de cruzamento de dados clínicos, laboratoriais e de imagem, o aprendizado de máquina pode identificar padrões dificilmente perceptíveis para a mente humana.
Um exemplo é a técnica de clusterização de dados que pode verificar que um determinado biomarcador não é útil para a população geral, mas pode ser usado em grupos específicos. Contudo, a máquina também erra justamente pelo seu excesso de objetivo, que não as permite captar as nuances que a cognição humana é capaz de notar.
Portanto, em grande parte, os biomarcadores auxiliam, sim, a reduzir a incerteza. No entanto, eles não substituem o raciocínio clínico do médico. A Inteligência Artificial tarelada aos biomarcadores tem se intensificado, mas o fator humano, o conhecimento clínico são fundamentais para que os biomarcadores evoluam e se tornem cada vez mais presentes na área da saúde.
Fonte: Saúde Digital / Lorenzo Tomé e Ricardo Tadeu de Carvalho