A cardiologia, a “mãe da clínica”, e a especialidade mais tradicional da medicina, também conheceu saltos técnico-científicos incríveis desde o advento do computador e que podemos entender o maquinário elétrico do coração em tempo real e de forma perene.
Do ECG ao holter de 24h disponíveis em SmartWatch, a ciência do coração hoje é uma engenharia biológica feita para manter o status cardiovascular de nossos pacientes monitorados e em nível ótimo, com métodos baratos e não invasivos.
Descubra em mais um texto da série 2021 Inovações Médicas quais as tendências e inovações na cardiologia.
Estetoscópios digitais
Diferentemente de transdutores de ultrassom ou eletrodos de um holter, os novos estetoscópios digitais pretendem ser específicos ao que foram criados: realizar uma ausculta clara e eficaz. Pareados em carater wireless a dispositivos externos, os novos estetoscópios digitais são capazes de realizar o traçado da onda sonora via aplicativo, sendo capazes de gravar o som e amplitude/frequência de onda, de forma a compartilhar com outros médicos ou com o próprio paciente sua ausculta cardíaca (um grande avanço para a objetividade do exame físico em prontuário).
Chegando a até 40x de amplificação sonora, um médico treinado em semiologia cardíaca é capaz de, sem distratores externos ou mesmo internos — como outros ruídos corpóreos, sejam pulmonares ou abdominais — realizar a ausculta eficaz e inalterada dos sopros mais discretos e que passariam despercebidos com um estetoscópio convencional.
Enfermaria barulhenta ou pronto-socorro movimentado, os estetoscópios digitais possuem a vantagem de discriminar sons isoladamente, evitando que o examinador confunda-se na ausculta e garanta que aquilo que ele está ouvindo é, de fato, um murmúrio cardíaco normal ou patológico.
Sem contar na educação médica onde é possível ensinar para o estudante de medicina um som raro, de maneira On Demand.
Prevendo infartos
O que você pensa de oferecer um holter 24h ao seu paciente sem cobrar nada dele? E se fosse possível, em pacientes de alto risco cardiovascular ou com angina, descobrirmos infartos quando estão ainda em seu início, diminuindo o tempo porta-balão desses doentes?
Os novos aplicativos para SmartWatch tornam possível a realização de um ECG sem a necessidade dos eletrodos e das clássicas doze derivações. Embora perca em acurácia, a possibilidade de identificarmos — seja de forma remota ou treinando o paciente para identificar ritmos na tela — arritmias, correntes de lesão (seja um padrão de Winter ou um franco supra de ST) ou até uma taquicardia ventricular antes que o paciente precise ficar sintomático o suficiente para buscar os serviços de saúde é algo que sabidamente é capaz de melhorar desfechos, especialmente em arritmologia e cardiologia intervencionista.
Alguns softwares, como o da Apple, reconhecem automaticamente alguns ritmos (por exemplo, o da fibrilação atrial), o que, obviamente, pode tornar uma Fibriliação Atrial que seria de início desconhecido em conhecido, levando a uma intervenção precoce e mais precisa, prevenindo os desfechos cerebrovasculares deletérios dessa doença. Nos EUA, 18% dos ritmos de FA são diagnosticados apenas durante o episódio de AVC. Agora, imagine se pudéssemos diagnosticar esses 18% antes do evento cerebrovascular!! É a isso que a monitorização contínua de ritmo cardíaco se propõe.
Alguns concernentes da segurança dos dados e da relevância clínica dos pacientes, entretanto, devem ser considerados. Caso você esteja monitorando o ritmo cardíaco do seu paciente de forma contínua, você precisa garantir a segurança dos dados e sua privacidade em prol do paciente, uma vez que, afinal, o médico estará registrando tais dados em prontuário, mesmo que seja digital.
Medicina regenerativa
A terapia celular e molecular não serve apenas para curar cânceres e melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças genéticas, congênitas ou não. Ela também é alvo de especialidades como a neurologia, a reumatologia, a ortopedia e muitas outras especialidades, como veremos nesta série ao longo do ano. Com a cardiologia, não é diferente.
O organismo humano é capaz de regenerar tecidos como pele, mucosa e outros diversos tipos de epitélio, mas tecidos de origem mesenquimal, tais como o ósseo e o cardíaco, não possuem tal propriedade. O tecido conjuntivo, como um todo, quando lesado, em vez de restituir-se, degenera em outros tipos de colágeno, levando à retração e fibrose.
Com o uso de células-tronco (ou apenas de sinalizadores celulares), a medicina regenerativa cardiovascular, que está em experimentação desde os meados de 2006, começa a ter seus primeiros resultados in vivo há alguns anos, e é uma das grandes promessas aos portadores de insuficiência cardíaca congestiva e outras doenças sequelares do sistema cardiovascular.
Pesquisadores da Mayo Clinic estão, no presente momento, estudando uma terapia regenerativa combinada para pacientes portadores de doença arterial coronariana. Através de bypasses coronarianos biológicos, com células-tronco e terapia gênica associados, esses enxertos prometem diminuir a aterosclerose coronariana e recuperar a perviedade do vaso sem graves efeitos adversos sistêmicos, uma vez que a terapia é alvo-específica.
Alguns modelos animais de insuficiência cardíaca, como em cavalos e cães, já atingiram regeneração total em protocolos experimentais, o que torna seu uso em fase III em humanos algo tangível.
A medicina regenerativa cardíaca ainda está fora da realidade econômica e médica, em especial, da brasileira, em virtude das caras matrizes da qual necessita (células-tronco embrionárias ou mesenquimais pós-tratamento especial). Entretanto, aspirados de medula óssea pluripotente são uma luz para este campo, que deve florescer em muito nos próximos 10 anos, dada a velocidade do desenvolvimento da ciência médica.
Fonte: Saúde Digital / Augusto Gaidukas