Funcionários públicos na Europa estão otimistas quanto ao impacto da Inteligência Artificial nos serviços e operações governamentais, mas enfrentam desafios para implementar as tecnologias, de acordo com estudo publicado pela Accenture.
O estudo — baseado em uma pesquisa com 300 gestores públicos de TI na Finlândia, França, Alemanha e Reino Unido — descobriu que a grande maioria dos entrevistados acreditam que a inteligência artificial terá um alto impacto em suas organizações nos próximos anos. Além disso, disseram que as organizações planejam aumentar seus investimentos em inteligência artificial no próximo ano.
Atendimento ao cliente e gestão de risco e fraude são duas áreas de operação mais visadas para a implementação de inteligência artificial no setor público, citadas por 25% e 23% dos entrevistados, respectivamente. Além disso, os benefícios do investimento em inteligência artificial mais citados são o aumento de eficiência, a economia de tempo e custos e o aumento de produtividade.
Apesar do entusiasmo com a implementação de inteligência artificial, os funcionários públicos entrevistados disseram que suas organizações estão passando por desafios sistêmicos para entregar projetos de bem-sucedidos com a tecnologia. 71% disseram ter dificuldades em encontrar as ferramentas de inteligência artificial corretas; 84% citaram desafios em adaptar a lógica de inteligência artificial ao contexto de suas indústrias; enquanto 81% disseram ter passado por desafios ao integrar tecnologias de inteligência artificial em suas operações de back-office. Além disso, 42% relataram preocupações de segurança com o uso de inteligência artificial e 31% disseram sofrer de falta de talentos e habilidades para escalar seus investimentos na tecnologia.
Quando perguntados sobre quanto suas organizações investem em inteligência artificial anualmente, a maior parte dos entrevistados (40%) citou entre US$ 5 milhões e US$ 15 milhões, e 63% disseram ter completado entre cinco e 10 projetos envolvendo inteligência artificial no último ano. 81% citaram uma dificuldade alta ou muito alta para duplicar implementações de inteligência artificial em sua organização devido à falta de colaboração interna ou de supervisão da liderança. No entanto, a maioria dos entrevistados acredita que a liderança de suas organizações apoia projetos de inteligência artificial, com apenas 21% reportando falta de suporte para tais iniciativas.
Brasil – Como a Inteligência Artificial pode ajudar o Governo a ser mais eficiente?
Que o brasileiro não está feliz com os serviços públicos que recebe em troca dos impostos que paga não é novidade. Uma pesquisa da Ipsos apontou que somos o segundo povo mais insatisfeito com o atendimento prestado pelo Executivo com um índice de 70%, apenas 1% atrás dos mexicanos, que lideram o ranking da reclamação.
Com notas de 0 a 10 em uma outra pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas realizada em São Paulo e no Rio de Janeiro, os piores serviços públicos avaliados foram saúde, com nota 3,2, e segurança, com 3,6. Transporte recebeu 4,7 e universidades ficou com 4,6, mesma nota de escolas e creches.
Os números mostram que a equação (altos impostos + má gestão dos recursos públicos + serviços de baixa qualidade) = (insatisfação + desperdício). Essencialmente, o maior desafio na gestão pública está na captura e análise de dados para estruturar planejamentos mais eficazes que resultem em um melhor atendimento ao cidadão.
Processar exabytes de informações e transformá-las em indicadores que aprimorem e acelerem a engrenagem da máquina pública se tornou o maior desafio dos governantes. O e-gov (governo eletrônico) já vem fazendo avanços importantes no Brasil com a estruturação de serviços em canais digitais.
A tendência mundial, que o Brasil segue, ainda que de forma mais lenta, é implementar serviços públicos alicerçados pela Inteligência Artificial para atender os contribuintes. Um estudo do Ash Center for Democratic Governance and Innovation da Harvard Kennedy School indica que os benefícios mais óbvios no uso da IA ( Inteligência Artificial) pela gestão pública são aqueles que possam “reduzir encargos administrativos, ajudar a resolver os problemas de alocação de recursos e assumir tarefas significativamente complexas” e indica que hoje os serviços estão concentrados em cinco categorias – responder questões, preencher e pesquisar documentos, gerenciamento de pedidos, tradução e elaboração de documentos.
Mundo afora, governos estão adotando IA e colocando em operação chatbots que funcionam como servidores públicos para atender a população. Os bots estão ajudando a responder a maioria das dúvidas mais frequentes, liberando os funcionários para atender as mais complexas. Com o tempo, provavelmente estes robôs conseguirão interpretar os sentimentos dos cidadãos e entender melhor o que desejam.
E o que mais a IA pode fazer na área governamental?
As possibilidades são muitas: colocar nas ruas veículos autônomos para o transporte pública; evitar fraudes na requisição de benefícios e em obras públicas; evitar quebras no mercado financeiro; identificar riscos de segurança e problemas no trânsito; e prevenir ciberataques.
Quem está na frente?
Entre os países que vêm realizando os maiores investimentos em Inteligência Artificial estão o Canadá, que lançou o Pan-Canadian Artificial Intelligence Strategy, liderado pelo Canadian Institute for Advanced Research, com US$ 98,7 milhões em caixa aportados pelo governo canadense para colocar o País entre os líderes no desenvolvimento de IA; a ambiciosa China, que planeja avançar para assumir a primeira posição até 2030 como centro de inovação, criando uma indústria de IA avaliada em US$ 147,8 bilhões; o Japão, que criou o Artificial Intelligence Technology Strategy Council para estimular pesquisa e desenvolvimento através da integração de indústria, governo e universidades; o Reino Unido, que reservou US$ 22,3 milhões em fundos para universidades desenvolverem tecnologias de IA; e os Estados Unidos, que também vêm investindo pesado em pesquisas para fazer a transição para a economia algoritmizada.
A Inteligência Artificial será a oportunidade, que não pode ser perdida, da administração pública melhorar a qualidade de atendimento e os índices de satisfação dos cidadãos. Porém, todo cuidado é pouco, o estudo da Harvard também sinaliza seis estratégias que devem ser adotadas na implantação de projetos de IA pelos gestores públicos: estruturar um programa baseado em metas e centrado no cidadão; receber sugestões do cidadão; desenvolver em cima de recursos já existentes; cuidar da privacidade dos dados; eliminar riscos éticos e evitar a total autonomia da IA para tomada de decisões; e aumentar o número de funcionários ao invés de reduzi-los.
Fonte: Meio e Mensagem/TI Inside