A homenagem prestada ao NHS (National Health Service – equivalente ao SUS brasileiro) pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao sair do Hospital público curado da Covid-19, é a coroação de um sistema público de saúde que há 72 anos é mantido com impostos pagos por 66 milhões de britânicos para atender pacientes de todo o país, sem nenhum tipo de conta a ser paga pelo usuário na ponta.
Como o NHS foi criado
O equivalente ao SUS britânico nasceu em 1948, três anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando um Reino Unido devastado – sobretudo as cidades portuárias e a capital, Londres, duramente atingida pelos bombardeios aéreos da Alemanha nazista – tentavam se reerguer dos escombros.
A discussão sobre a necessidade de criar um sistema único de saúde no Reino Unido vem desde pelo menos 1909, com a ideia sendo defendida tanto pela esquerda quanto pela direita, com nuances. Em 1934, por exemplo, a proposta foi feita por membros da Associação Médica Socialista. Dez anos depois, em 1944, foi defendida por parlamentares do Partido Conservador.
Aneurin Beva, um parlamentar trabalhista vindo de uma família de trabalhadores da mineração, é considerado o padrinho do NHS em seu formato atual. A ideia que ele defendia estava baseada em três princípios vigentes ainda hoje: que atenda a necessidade de todos, que seja gratuito na ponta e cujo acesso seja medido pela necessidade do paciente, não por sua capacidade de pagar pelo serviço.
Os planos privados de saúde até existem no Reino Unido, mas são tão restritos que são considerados um negócio de nicho, usado sobretudo por pessoas que querem poder escolher seus médicos não por proximidade geográfica, como determina o NHS, mas por outras preferências. A situação contrasta com a de países como os EUA, onde não existe um sistema universal de saúde. No contexto americano, 27,5 milhões de pessoas não dispõem de renda para pagar por um plano privado, e, por isso, têm normalmente que deixar de se tratar ou contrair dívidas de longo prazo.
No Brasil, por outro lado, existe um sistema único de saúde como o britânico, mas ainda assim mais de 47 milhões de pessoas contratam planos privados, na esperança de prescindir dos serviços públicos, tidos como superlotados ou insuficientes, mas que são a única fonte de esperança e saúde para uma parte substancial da população brasileira, especialmente em tempos de Covid-19.
Fonte: Nexo Jornal / João Paulo Charleaux